
Em Portugal, pioneiro na descriminalização das drogas desde 2001, o debate sobre substâncias ilícitas evolui ao ritmo da tecnologia.
As redes sociais e aplicações de mensagens encriptadas, como Instagram, Telegram e WhatsApp, estão a transformar radicalmente a forma como consumidores e traficantes interagem, facilitando o acesso e tornando o processo mais discreto e, por vezes, mais seguro.
Emojis: o novo códice do tráfico online
Os traficantes utilizam símbolos universais para anunciar os seus produtos e evitar detecção. Flocos de neve representam cocaína, corações e raios simbolizam MDMA, enquanto uvas e biberões remetem para xaropes de codeína, conhecidos por “lean”.
Até a simples folha de ácer se tornou o símbolo genérico de todas as substâncias.
Compra e venda de drogas em Portugal: das ruas às redes sociais
O avanço da tecnologia criou uma alternativa às transacções nas ruas ou ao intrincado processo da dark web. Plataformas abertas, como Instagram e Snapchat, permitem que consumidores recebam os produtos directamente em casa.
Segundo relatórios da Agência Europeia da Droga, a compra através destas plataformas tem vindo a aumentar, especialmente entre os jovens.
Um estudo recente mostrou que, em países como Espanha e Irlanda, cerca de 10 a 20% das compras de droga são facilitadas online.
O fenómeno é particularmente preocupante entre adolescentes: 60% dos jovens afirmam ter visto conteúdo relacionado com drogas nas redes, levando a percepções distorcidas sobre os riscos envolvidos.
Qualidade e riscos: um equilíbrio frágil
Os adeptos da compra online alegam que existe maior controlo de qualidade, com canais de Telegram dedicados a avaliar fornecedores e fóruns a funcionar como secções de comentários “à la Amazon”.
Contudo, a presença de substâncias adulteradas, como o fentanil, representa um risco crescente, mesmo em mercados aparentemente “seguros”.
Aplicações sob pressão
Plataformas como Meta (Facebook e Instagram) removem milhões de publicações relacionadas com drogas anualmente, mas estas acções muitas vezes falham em distinguir traficantes de organizações que promovem a redução de danos.
O desafio persiste: à medida que um canal é fechado, outro rapidamente emerge.
A solução? regulação inteligente
Em países como Portugal, onde o consumo de drogas é tratado como uma questão de saúde pública e não de criminalidade, o próximo passo poderá ser a criação de mecanismos mais robustos e regulações inovadoras.
Como defendem especialistas, o combate à venda ilegal não passa apenas por repressão, mas por alternativas legais e seguras, protegendo tanto consumidores como a sociedade.
A evolução é clara: enquanto as redes sociais alteram o panorama da droga, resta saber se os modelos de regulação portugueses poderão novamente servir de exemplo para o resto do mundo.










