É interessante a reacção das pessoas quando lhes pergunto se já testaram ou experimentaram auscultadores da AIAIAI. Sim, o nome é estranho, mas estes AIAIAI TMA-2 Studio Wireless+ têm toda uma designação que nos faz pensar. E, atenção, são simples no design mas únicos no segmento!
AIAIAI TMA-2 Studio Wireless+, um sistema modular pouco comum
A AIAIAI é uma marca com pouca presença em Portugal mas já tem prestígio noutros mercados, principalmente em segmentos de nicho. É para eles que a marca pensa e idealiza os seus modelos que têm uma particularidade pouco comum: são modulares, ou seja, podemos escolher, modificar e montar todas as peças que fazem o conjunto, optar por almofadas em pele ou alcantara, diferentes cabos, e muito mais.
A embalagem é única: cada elemento vem em saco separado.

O que vem nos sacos
Um saco S05 com os altifalantes de 40mm, E08 com as almofadas, neste caso over-ear e em alcantara, o que é um luxo, o saco H10 transporta a banda, o X01 é um transmissor (e já lá vamos), o C02 são dois cabos em espiral e ainda o A01 que tem uma bolsa de pano.
Tudo é de cor preta excepto o cabo verde alface que liga ao transmissor (mini-jack para mini-jack com adaptador).

A montagem
Ora tendo todas as peças espalhadas, a primeira aventura é tentar perceber se os nossos básicos conhecimentos sobre a construção de auscultadores (a minha é mais usá-los) garante uma montagem bem sucedida.
E a experiência, garanto, é simples mas ao mesmo tempo fabulosa. Parece que estamos a brincar com Meccano outra vez. A banda tem dois cabos (em espiral) para ligar aos altifalantes, um com uma peça de plástico verde, a outra nem isso. Depois é ir juntando tudo. É fácil e percebemos uma grande vantagem do sistema modular: é que podemos escolher outras peças, drivers, almofadas, etc. e construir o nosso AIAIAI perfeito.



A conectividade
Este é o grande trunfo deste modelo, visto que também é o único que oferece emparelhamento tradicional por Bluetooth, MAS TAMBÉM, e este é o plus (+) da designação, uma conexão de baixa latência e lossless a 2.4GHz que se designa por W + Link.
Exactamente, leram bem. E quanto é a baixa latência: apenas 16 ms, ou seja e francamente, nada.
Mas há que abrir o manual de instruções para sabermos como emparelhar o Bluetooth e o 2.4GHz. No topo da banda estão três botões, on/off e volume, mas que também servem este propósito.
A banda tem também “segredos quase invisíveis”: no mesmo espaço de onde saem os cabos, de um lado temos o selector Bluetooth/lossless (as cores são azul ou branco) e do outro uma ligação USB-C para recarregar os auscultadores. A antena está escondida na banda, o que é um toque precioso e inteligente, pois fica invisível e tem espaço suficiente para fazer bem o seu trabalho. No mesmo espaço está alojada a bateria que nos garante sessões intermináveis. O acabamento é num material tipo aborrachado que deixa imensas impressões digitais e que, em termos de durabilidade, pode ser uma incógnita.

A colocação do selector está ok, mas é difícil ligar um cabo USB-C à porta, pois o espaço é pequeno e temos de fazer alguma ginástica. A vantagem é que a bateria destes auscultadores é, talvez, a mais duradoura que eu já conheci neste tipo de equipamentos, oferecendo mais de 80 horas de reprodução via Bluetooth (na versão 5.0). Sim, 80 horas com uma carga!!!
Através do transmissor, essa capacidade baixa drasticamente mas continua a ser fantástica com 16 horas de audição contínua.
Os dois cabos têm tarefas diferentes: o mais longo com 1,5 m, é perfeito para ligar ao áudio out de um amplificador (através do adaptador 6,35mm) ou computador, tablet, telefone via 3,5mm.
O verde, e mais pequeno, serve para ligar o transmissor à fonte e tem as mesmas conexões e adaptador, só que bem mais curto.

Os altifalantes
Com drivers de 40mm, tem uma ressonância até 80 Hz e uma impedância de 32 Ohm. O diafragma é construído com tecnologias interessantes, como Bioelulose e Neodímio de alto grau.
Quanto ao som, ele é neutro o que permite ter uma noção bastante precisa de todas as frequências, pois não há graves “a bombar” nem agudos demasiado estridentes.
São específicos para um nicho que trabalha em estúdios, quer na edição de áudio ou vídeo, pois a coloração é precisa, e quanto a mim, o resultado é francamente eficaz.
Não são, ressalvo, auscultadores para um audiófilo que gosta de sentir tudo o que foi gravado desde o “gravão” à flauta mais estridente, mas, após muitas horas em várias situações, com ou sem cabo, por Bluetooth ou Lossless, fui ficando cada vez mais encantado com este tipo de tratamento.
Mas há alguns limites. Por exemplo, emparelhados por Bluetooth ao PC, o som nunca atingiu um nível alto. Ficava a meio termo e não cheguei a perceber porquê.
Já ligado pelo transmissor a 2.4GHz, é notório algum noise floor que pode ser incomodativo. Este “hiss” estático parece ter a ver com a saída do transmissor.
Pesquisei um pouco pelos fóruns e percebi que é um problema presente neste modelo e que a AIAIAI tem uma quase solução: aumentar o nível da fonte e baixar o nível nos auscultadores. Isto ajuda bastante e a estática deixa de ser perceptível quando ouvimos música ou trabalhamos o som.
Portanto, e fica o aviso, os TMA-2 Studio Wireless+ não são para malta heavy que gosta de ouvir música a furar os tímpanos. Muito pelo contrário. São para ser usados q.b. e com o nível que até prejudica menos os nossos ouvidos.

Conforto
E por falar nisto, tenho de apontar que estes AIAIAI com estas almofadas em alcantara são muito confortáveis. E. como também são leves, não damos por eles ao longo das horas. Não suei por um minuto, coisa que os modelos que optam pela imitação de pele provocam ao fim de cinco minutos, nem nunca me senti quente ou com calor.
Por outro lado, como não está presente qualquer tecnologia de cancelamento de ruído, há sempre algum que entra.
Ou seja, são quase perfeitos para quem trabalha profissionalmente, não me canso de dizer, mas estão longe dos sets profissionais de estúdio que chegam a custar bem mais de mil euros. Mas se olharmos ao preço, sorrimos, pois sabemos que estamos a fazer uma boa opção.

Em trabalho
Se nunca usei auscultadores por Bluetooth quando edito áudio ou vídeo devido à latência, estes AIAIAI mostraram que, com a tecnologia 2,4GHz lossless, são… mágicos! Perfeitos! E basta isto, em conjunto com o conforto e a grande bateria, para me levar à loja e comprar um par.
Não são perfeitos, como já escrevi sobre o noise floor, e também algo limitados quando usados desta forma, pois deixamos de ter controlo nos botões físicos e apenas podemos aumentar ou baixar o nível através da fonte, o que também não é dramático quando se trabalha.
Outra experiência que me satisfez foi ligar o transmissor ao TV (que tem Bluetooth mas não emparelha com nada a não ser comandos da marca) e poder ouvir, sem latência, os filmes que quero até altas horas da noite sem incomodar família e vizinhos.
E este é outra vantagem destes TMA-2 Studio Wireless+, pois dão nova vida a tudo o que é mais antigo. Pena que o codec Bluetooth seja o 5.0 e não o mais actualizado, mas também não influí muito no processo de audição.

Alcance
Não há melhor que um duplex para perceber os limites da tecnologia sem fios. E tive dois comportamentos distintos: seleccionando o Bluetooth tenho mais um metro, dois metros de sinal até começar a quebrar. Em 2,4GHz, esse alcance é menor e acontecem uns estalidos em vez de apenas a perda de sinal.
Mas com tantas paredes, máquinas, escada e obstáculos, quase que consegui andar por casa toda sem grandes problemas, à excepção da cozinha e do quarto mais afastado do corredor.

Concluindo
Os TMA-2 Studio Wireless+ são próprios para um nicho de utilizadores que trabalham nas áreas criativas e que, finalmente, podem usar auscultadores sem fio e sem latência. Só quem nunca passou horas com um cabo agarrado “à cabeça”, sendo técnico ou músico, cameraman ou produtor, sabe o quão incrível isto pode ser.
E neste campo, ter esta possibilidade em troco de algumas limitações nem chega a ser uma questão.
Estes auscultadores também são a resposta quase ideal, devido ao transmissor, para quem tem em casa sistemas de áudio vintage e que, desta forma, passam a pertencer à presente época. E também, como acontece no meu caso, de poder ouvir o que passa no televisor sem cabos de cinco metros e sem latência.
Quem quer outro tipo de dinâmica, e modelos mais apetrechados tecnologicamente (e pelo mesmo valor), deve escolher os irresistíveis Sony WH-1000XM4 (ou outros similares). A latência não é um problema e o som é mais envolvente, quente e harmonioso.
Termino com a questão dos AIAIAI serem modulares
Se por acaso alguma peça se estragar, qualquer uma, mudamos essa peça e continuamos a usufruir do nosso investimento inicial. Isto, quanto a mim, é uma razão, só por si, mais que válida para optar por estes TMA-2 Studio Wireless+.

Preço
Ronda os 340€ em lojas portuguesas
Especificações
- Diâmetro da chave: 40 mm
- SPL: 113 dB
- Frequência de ressonância: 80 Hz
- Impedância: 32 Ohm
- Potência nominal: 40 mW
- Potência máxima: 100 mW
- Diafragma: Biocelulose
- Imane: Neodímio de alto grau
- Código do produto: TMA-2 Studio Wireless +

A questão do noise floor é em tudo semelhante com o que acontece com um microfone se nos afastar-mos dele e subir-mos o ganho. Ou seja por norma as pessoas sobem todo o volume no receptor (auscultadores) mantendo o o emissor relativamente baixo.
Daí a recomendação de aumentar todo o possível o emissor e moderar no receptor..
Mesmo as funções dos botões ficam desactivadas em W+ porque o play stop etc deixa de pertencer necessariamente a um aparelho digital.
Excelente Review, Parabéns
Olá Miguel, sim, é uma tendência colocar o volume dos auscultadores no máximo, mas com estes, mais “puros”, é preciso ter mais cuidado 🙂
Obrigado.