Estes são uns auscultadores de topo. Topo em tudo! Os Bose QuietComfort Ultra são “ultra” desde os materiais de construção à qualidade de som, passando pelos modos de escuta até, infelizmente, ao preço. Sim, esse também é ultra. Será que vale o seu peso em quase ouro? É o que vou ouvir em discos de diferentes géneros e gravados em FLAC para uma mínima perda de qualidade.

Os Bose QuietComfort Ultra
Exemplarmente construídos, os auscultadores de concha Bose QuietComfort Ultra são o novo modelo topo de gama da marca germânica e vêm tomar o lugar do modelo NCH 700 que, devido a um design disruptivo em relação ao que a marca habituou os seus fãs, não foi o sucesso estrondoso que se esperava. E, claro está, perdeu terreno em relação à Sony que é um adversário que exige toda a arte, técnica e engenho da parte de todas as demais marcas, entre elas esta arqui-rival histórica.
Há muito para gostar nos Ultra, a começar pelo design que é bom um passo “atrás”, com um desenho tecnicamente mais conseguido e que está na linha daquilo a que estamos habituados da marca.



Este novo desenho também permite dobrar ambas as conchas, e respectivos ângulos, para dentro e para os lados, o que torna estes Ultra muito transportáveis, dentro e fora da bonita bolsa robusta que os acomoda e guarda e que também tem no interior o cabo usb-C para recarregamento e o típico – e infelizmente proprietário – cabo de áudio com ficha 2,5 mm ao invés da tradicional 3,5.
Tecnicamente, os QuietComfort Ultra estão equipados com o Snapdragon Sound Technology Suite, permitindo o suporte do mais recente codec Qualcomm aptX Adaptive para transmissão de áudio – incluindo capacidades sem perdas e de baixa latência. Também incluem o Google Fast Pair para uma maior facilidade de utilização ao emparelhar dispositivos Android e são compatíveis com Bluetooth 5.3.

Comandos físicos e tácteis
Os Ultra oferecem dois tipos de interacção. A concha direita contém três controlos: um botão de alimentação / emparelhamento Bluetooth, uma faixa táctil capacitiva para controlo do volume e acesso a atalhos e um botão multifunções para alternar entre modos de audição, atender ou terminar chamadas e controlar a reprodução de conteúdos.
A concha esquerda inclui um indicador LED, o conector de 2,5 mm e uma porta de carregamento USB-C que, infelizmente, não permite a passagem do sinal acústico.


É uma solução muito eficaz e de rápida e fácil memorização, pois as principais funções têm botões tradicionais, enquanto a faixa táctil entende o nosso movimento com o dedo para cima e baixo (aumentar e diminuir o volume) e um toque seco e rápido alterna entre os modos STILL e MOTION que são as estrelas do Bose Immersive Audio.
O botão de acções alterna entre o modo de transparência, o modo de leitura e atende/desliga chamadas.
Ultra conforto de utilização
Pois que nesta área, os QuietComfort são imbatíveis e nesta versão Ultra tem esponjas ainda mais preenchidas e, por conseguinte, confortáveis. O próprio desenho da concha ajuda quem é mais “orelhudo”, como eu, que tenho umas grandes e longas orelhas que ficam sempre mal posicionadas dentro de modelos circulares.

A alça, com muita área mole, também ajuda a não pesar no cimo da cabeça, o peso do conjunto são 250g. Por tudo isto, dou nota máxima para o conforto imediato.
Mas existe outro parâmetro importante que é o tempo de utilização e posso afirmar que usei e abusei dos Ultra durante estas semanas para perceber que não aquecem em demasia as orelhas o que permite mais tempo de audição, o que é muito bom. Mas atenção à capacidade da bateria, pois neste campo – com o máximo de 24 horas sem qualquer tipo de modo ligado e apenas 18h com o Immersive Áudio ligado – os Bose perdem para a concorrência.
Mas é a construção que promove o primeiro passo para o brilharete que os Ultra fazem no que respeita ao nosso isolamento do mundo (cada vez mais feio).
Os QuietComfort Ultra promovem a combinação do cancelamento de ruído Bose Immersive Áudio com a calibração de áudio CustomTune. Ambas trabalham em conjunto para proporcionar um som que é verdadeiramente envolvente.
Um renovado sistema de processamento de sinal junta-se a um conjunto de chips e microfones avançados que, conjuntamente com os nomeados Immersive Áudio e CustomTune, também suporta o Modo Bose Aware com ActiveSense para uma excelente captação de voz que permite conversas telefónicas evitando ruído externo.

Os modos ultra que são… Ultra
As duas novas opções para ouvir o Bose Immersive Áudio denominam-se “Still” e “Motion”. A opção “Still” é perfeita para estarmos defronte à fonte, ou seja, o palco sonoro é central e frontal. Se virarmos a cabeça para os lados ou mesmo a 180 graus, percebemos que, de forma quase mágica, o som mantém-se à frente. É apenas extraordinário, mas tem que se ter algum cuidado ao usar. A opção “Motion” é a tradicional forma de audição e vai connosco para todo o lado. Uma curiosidade: andei bem mais que 20 metros e com algumas grossas paredes pelo meio até perder o sinal Bluetooth dos Ultra. Fenomenal!
· Cancelamento de Ruído
Tem quatro modos, do silencioso ao consciente (transparência).
· Anti vento
A função Wind Block, quando activada, desliga alguns microfones externos, de forma a melhorar a redução da interferência do vento no circuito de cancelamento de ruído activo.
· Modo multiponto ajustável
Estes auscultadores têm uma nova funcionalidade que permite aos utilizadores desligar a função multiponto, o que significa que os problemas de interoperabilidade com alguns dispositivos podem ser ultrapassados. Isto proporciona uma experiência ainda mais perfeita, sem a necessidade de desligar a ligação Bluetooth noutros dispositivos emparelhados.

Concluindo
Temos que perceber que estamos a falar de mais de 500€ (em Portugal devido aos impostos) e todos os parâmetros têm que ser perfeitos para poder, em consciência, dizer-vos para ir à loja comprá-los.
A questão é que é difícil encontrar defeitos nos Bose QuietComfort Ultra mas… eles existem. Vou começar pelo menos positivo: o facto da ligação por USB-C não permitir mais nada para além do carregamento é algo que me incomoda. Muitos adversários permitem ouvir música através desta ligação, o que deveria ser universal.
Depois existe outra faceta na Bose com que embirro solenemente: continuam a teimar em usar uma ligação exclusiva com a medida 2.5 mm em vez da globalizada 3,5 mm. Porquê, Bose, porquê? Se perder o cabo áudio terei de comprar um oficial, o que não é boa política e faz com que, simplesmente, não o use a não ser em casa. E, pior, o comprimento obriga-me a usar um extensor para chegar à fonte que utilizo muitas vezes e que é o PC desktop.
Também não posso deixar de apontar o íman de dedadas e sujidade que estes Ultra são… basta ver as fotografias.
O preço também é elevado tendo em conta que os Sony 1000XM5 (ler análise) já se encontram por 350€… dá que pensar, não é?
Mas vamos ao que é realmente inquestionável: o conforto de utilização mantem-se lendário nesta nova versão e neste repensado design “clássico” da marca. O peso-pluma, a qualidade e materiais de construção e o facto de poderem ser dobrados, é apenas fantástico para quem os quer meter numa mochila ou bolsa para ir utilizando ao longo do dia. Por falar no dia, convém ter em atenção as parcas 18h de utilização com o modo dinâmico activo. Mas… vamos lá ver uma coisa: quem usa de seguida uns auscultadores durante 18 horas? Só o gamer mais fervoroso e esse nunca comprará uns Bose.
O som é rico, dinâmico, pormenorizado, mas tem dinâmica mais que suficiente para lidar bem com sons secos, ritmados, com muito punch! São extraordinários para qualquer tipo de música o que, convenhamos, é o que todos os auscultadores pretendem oferecer mas que, por este ou aquele motivo, não conseguem na plenitude.
O cancelamento de ruído é notável, com um modo de “transparência” conseguido para nossa segurança.
Em suma e numa simples palavra: são realmente ultra!

Discos ouvidos (FLAC)
Duran Duran “Dance Macabre” 2023
Se há coisas espantosas, uma delas é a longevidade dos DD que ao longo de 40 anos, grosso modo, têm continuado a carreira (com altos e baixos) a demonstrar uma imensa vitalidade. Foi uma das bandas que mais gostei no início dos 80 e é muito interessante regressar a alguns temas do primeiro álbum neste 16º disco cheio de curiosidades e muito bem produzido. Há dois temas do passado, um deles uma grande misturada entre o original “Lonely in your nightmare” e o hit disco sound “super Freak” de Rick James, bem divertida e realizada.
O album começa com uma reinterpretação de “Nightboat” de 1981 muito dinâmica e que oferece novas pistas a um antigo fã.
Mas são as versões de músicas mais orelhudas, como “Psycho Killer” dos Talking Heads, “Bury a Friend” de Billie Eilish, “Paint it Black” dos Rolling Stones ou mesmo “Spelbound” de Siouxie and the Banshees que vão vender este disco com uma onda “macabra” que nos faz sorrir e um “vibe thrillesco” que nos obriga a bater o pé e a abanar a cabeça.
Quanto ao som, é um disco perfeito para se ouvir através dos Bose Ultra, pois existem muitas dinâmicas e roupagens diferentes que permitem perceber as mais ínfimas, e porque não íntimas, nuances electrónicas dos teclados de Nick Rhodes, ao lado de linhas de baixo meticolosas, muito ritmadas de John Taylor que estão sempre presentes, dando o impulso necessário para reforçar uma super actual batida de Roger Taylor.
Há lugar para o brilhantismo das guitarras tanto de Andy Taylor (uma presença muito especial do quinto Duranie) e do fantástico Warren Cuccurullo, um dos responsáveis pelo hino “Ordinary World” lançado em 1993.
Brian Eno “The Ship” remastered 2023
Esta “obra sonora” é perfeita para se ouvir com auscultadores, muito devido aos “noises” electrónicos que preenchem os ecos dos xilofones e delays de elementos soltos que passam a ecoar como ritmos falsos, mas eficazes, num conjunto de ambiências em que o lugar ao silêncio, segundos que parece que vão acontecer legendando uma breve pausa, mas os ouvidos nunca são confortados com esses intervalos, muito pelo contrário.
“The Ship” é quase único, ao piscar o olho a Laurie Andersen, mas também a Wim Mertens e, quase obrigatoriamente, uma revisita enigmático e repetitivo mundo de Steve Reich. Os Ultra brilham neste contexto principalmente com qualidade Hi-Res Audio.
Chet Baker “Chet” 1959 remastered 24-96
Sem os ruídos habituais de um qualquer bar na costa oeste dos Estados Unidos, numa altura em que ecoavam as mestrias de Charlie Parker ou Jerry Mulligan, figuras que estiveram na génese da obra de Baker, ou da ambiência típica dos estúdios de gravação à época, esta edição de “chet” está muito bem produzida com um sentido estético maravilhoso e uma sensibilidade quase milimétrica ao que se passou no palco da gravação original.
Os Bose QC Ultra convidam-nos a fechar os olhos e perceber o exacto espaço fisicamente preenchido por cada músico. Esse espaço estereofónico é assim muito trabalhado por cada solista, à esquerda uns, à direita outros e, curiosamente, quase nada no espaço central onde, pensamos nós, deveria estar a secção rítmica, aqui muito puxada à direita.
O resultado é perfeito com auscultadores, porque nos dão para além do espaço, uma profundidade de palco sonoro pouco comum em gravações mais antigas. É um grande prazer, confesso.
Four Tet – “Live at Alexandra Palace London 24th May 2023”
Usei o modo STILL dos Bose Ultra para apreciar este concerto ao vivo como se lá estivesse. E, confesso, fechando os olhos, sou mesmo transportado para esta construção datada de 1873 e que é um dos mais aclamados e especiais espaços para espectáculos da capital britânica nos dias de hoje. Este antigo palácio acolhe eventos com até 10.000 pessoas, o que lhe confere um status pouco comum no mundo artístico.
Four Tet é o alter ego do músico Kieran Hebden, pioneiro das electrónicas musicais que misturam vários estilos musicais, do jazz ao hip hop, do folk ao techno.
Os seus concertos ao vivo são uma festa de sentidos, com muita luz mas, acima de tudo, muito ritmo, uma cadência electrónica que é povoada por melodias simples mas eficazes, que depressa são entendidas e assimiladas.
Em modo STILL, sou imediatamente colocado à frente do palco e sinto-me realmente dentro da festa. O cancelamento de ruído muito eficaz dos Ultra ajuda a que me esqueça do mundo e dos problemas monotemáticos noticiosos para me deixar embalar por este bombo agressivo, matemático, cheio, que me invade o corpo. Aconselho vivamente esta experiência e, já agora, libertem espaço para um pezinho de dança.
Human League “Heart Like a Wheel” 2023 16 bit – 44.1kHz
Este EP é um tropeção acústico. O primeiro tema, que dá título ao conjunto de seis temas, surge com beat electrónico típico da banda que conheceu um sucesso global nos 80, mas onde falta tudo: baixo, presença, força, corpo e, porque não, alma.
É um tiro ao lado com má produção, o que não se compreende nos dias de hoje, talvez por querer imitar o período áureo dos temas como “Don’t you want me”, “The sound of the crowd” ou “Fascination”.
Ao terceiro tema, “A doorway”, acontece quase uma reviravolta onde se ouvem os sons mais graves, muito por causa da ausência do beat electrónico que enche todo o espaço nas misturas restantes. Não esperava grande coisa deste regresso, mas confesso que fiquei desiludido.
Katie Melua “Cal off the search”, Deluxe Edition 2023 16 bit – 44.1kHz
Se há artista (compositora, letrista, instrumentista, cantora) que me enche a alma é esta jovem, um portento de classe, equilíbrio e muito bom gosto.
No tema que dá título a este conjunto de canções de 2003 assinadas por Mike Batt (que também produz esta obra prima), John Mayall, Delores Silver, Randy Newman e James Shelton, mas onde ainda houve espaço para duas composições próprias, somos mimados por arranjos subtis do clarinete e corno inglês que dão o mote à entrada do cordame que acompanha com arranjos muito equilibrados, e até jazzísticos, que nos preparam para um solo de trompete que nos vai directo ao coração.
São espaços rigorosos que sublinham todo o potencial de uma Big Band, onde não falta uma guitarra Fender aqui e ali,
O tema “The closets thing to crazy” poderia ser um original de Meloa, mas é assinado por Batt, o que demonstra a enorme influência que este teve e deixou na futura Katie que nunca se divorciou deste tipo de sonoridade.
O que mais encanta neste disco é a extraordinária complexidade de layers melódicos e instrumentais, que combinados – e bem – conseguem criar uma zona muito confortável para o ouvinte. Tudo é requinte, equilíbrio, subtileza, serenidade e paz, elementos confortavelmente assumidos pelos Bose QC Ultra que conseguem transmitir esta difícil atmosfera para os nossos ouvidos.
Os Bose QuietComfort Ultra foram gentilmente cedidos pela marca.










