O meu primeiro contacto com o universo Lynchianesco (ou Lynchiano, escolham) foi através do corte de cabelo de Henry Spencer e dos gritos da sua namorada na experiência cinematográfica intitulada Eraserhead que devo ter visto nas cadeiras do saudoso (por aquilo que me ofereceu ao longo de uma vida) cinema Quarteto.
Por outro lado, o meu primeiro contacto com o universo do actor John Malkovich foi, se bem me lembro, na fita Império do sol que deu também ao mundo outro extraordinário mestre do disfarce, o grande Christian Bale.
O que esta vida tem de bom, para quem a vive desde o milénio passado, é ter assistido às estreias dos vários filmes que fizeram estas enormes carreiras, mas confesso que fui mais seduzido pelo universo de um David Lynch – que embalava também o meu próprio sentido estético e sonho criativo – no meu primeiro quarto de século comparativamente ao sedutor Visconde de Valmont no inesquecível Ligações Perigosas. Durante o segundo quarto de século, foi um Malkovich maior que ele próprio que me ia preenchendo a alma culminando nessa obra a todos os níveis originais intitulada Beying John Malkovich e que destruiu a fronteira entre o real e o faz de conta, assim como Twin Peaks mostrou que a televisão podia ser filmada como se tratasse de cinema.
O que podemos esperar de um actor que consegue o impossível ao reencarnar um autor que conseguiu ultrapassar as fronteiras do que se imaginava possível? Tudo, quando o projecto é dirigido pelo autor visual (ele auto-denomina-se fotógrafo mas é tão mais que isso) Sandro Miller e que já trabalhou com John numa curta-metragem impressionante intitulada Malkovich Butterflies.
Neste Playing Lynch, o actor reencarna se7e das mais fascinantes – ou aterradoras – personagens criadas por David, com destaque para o Homem Elefante, a Senhora do Tronco ou o agente Dale Cooper.
A música, como não poderia deixar de ser, tem a assinatura de Angelo Badalamenti que divide o espaço com outros artistas, como os The Flamimg Lips.
Confesso um formigueiro na barriga. Mal posso esperar.









