Moderno, inteligente, conectado, completo e dinâmico. O Ioniq tem razões para ser um sucesso. Um bom preço e oito anos de garantia assinam a conclusão.
Quando a Hyundai me contactou para saber do meu interesse em analisar o seu novo Ioniq, fiquei agradavelmente surpreendido. Afinal, nunca tinha tido contactado com a marca e meter-me nas mãos logo o modelo que considero mais apetecível, o híbrido, parecia bom demais. Agradeci e fui levantá-lo. Propositadamente, não li nada sobre o carro nem sobre as unidades que o movem. Sabia apenas que o Ioniq vai ter três versões, duas já disponíveis (o híbrido e o eléctrico) e a terceira a caminho, o Plug-in.
Uma das questões que faz com que alguns potenciais clientes fujam a sete pés dos modelos híbridos e, mais concretamente, dos eléctricos, é a aposta num design pouco consensual. Tenho como viatura própria um modelo híbrido que em pouco difere do modelo “normal” da marca, mas a razão é simples: foi adaptado e não pensado de raíz. Mas olhando o que anda por aí, percebo alguns temores do tradicional cliente português, tão cinzentão quanto a cor que acaba por escolher.
O desenho exterior do Ioniq não assusta ninguém o que, desde logo, é um passo garantido para a vitória comercial. O carro está até bem atraente, sempre dentro do tradicional desenho “oriental que se pretende europeu”, mas conseguido em certos aspectos. Por exemplo, a frente lembra o Focus, modelo que atrai milhares de europeus. A traseira lembra antigos Hondas que cortavam o vidro em dois. E a lateral mostra um classicismo apto a converter qualquer chefe de família. Ora é exactamente este o cliente alvo para uma marca que já oferece mundos e fundos como a garantia de oito anos, algo a que ninguém fica indiferente.
Vamos então entrar no Ioniq. A primeira impressão é que somos obrigados a estudar durante uns cinco minutos todo o posicionamento dos botões e operações, tal é a sua profusão. Quem me conhece sabe que adoooooro este tipo de coisas, botões e luzinhas, desde que úteis, o que se comprova neste híbrido.
Vamos aos interiores? Bom, o que posso apontar quando um carro tem todo o equipamento que julgo ser possível “enfiar” num automóvel, enfim, ao alcance das pessoas “normais”? Este Ioniq tem tudo, mas tudo, até um tapete para recarregar por indução o iPhone, um ecrã LCD no painel de instrumentos que está recheado de informação gráfica e o ecrã táctil de 8″ que abre um mundo de Apps para tudo e mais alguma coisa. É intuitivo e fácil de operar, e demonstra que a tecnologia de topo está a surgir nos segmentos médios para nosso contentamento.
Guiá-lo é um prazer mas não para condutores armados em pilotos de corridas. Desde que optei por ter um híbrido, sei que alterei profundamente a forma de condução, sendo muito mais calmo em quase todas as situações. Se bem que o motor eléctrico dê sempre um ar de sua graça nos arranques, este tipo de motorização requer calma, um estado zen e cool, algo que vai ajudar, e muito, a ultrapassar as amarguras das filas caóticas na capital portuguesa. Como não temos de meter mudanças, é só acelerar e travar, sabendo que estamos a andar sem gastar combustível no temível pára-arranca que estraga todas as médias oficiais. E, não esquecendo, este Ioniq vem de fábrica com um sistema de som e colunas assinado pela Infinity o que é, a todos os níveis, um extraordinário luxo e que nos reserva um pedaço do céu dentro do habitáculo que nos afasta do reboliço do que se passa mesmo ao nosso lado.
Com uma caixa automática de seis velocidades e embraiagem dupla, é muito fácil ver o Ioniq a galgar terreno e a ultrapassar muito fácil e rapidamente os limites máximos de velocidade. Não a sentimos, o carro está bem desenhado, é fluído, a coisa funciona com os dois motores (105 e 44 CVs, combustão e eléctrico respectivamente) a mostrarem que não estão só ali para a toada mais calma. Basta colocar a caixa em modo manual sequencial, para deixarmos o modo Eco e entrarmos de rompante em modo acelera, ou seja, Sport. O Ioniq tem muitas ajudas à condução, activas e passivas, e foi das coisas que menos gostei. Percebi algumas vezes que estava a ser guiado e não a guiar, pois o sistema é intrusivo. Não falo do cruise control adaptativo, que experimentei na A5, ou até do aviso da mudança de faixa de rodagem que nos ajuda numa longa viagem, mas sim da própria condução, demasiado assistida, demasiado, como direi, “artificial”.
Existem algumas curiosidades, como o travão de mão… que se acciona pelo pé (tipo Mercedes), os elementos azuis por fora e dentro, os bancos confortáveis e com muitos ajustes eléctricos, a mala que é grande e leva muita coisa e a própria plataforma que vai servir toda uma futura colecção de modelos.
Achei que a consola central pode vir a fazer alguns ruídos parasitas antes do tempo, pois ouvi umas vibrações de vem em quando, mas ter um sistema ventilado que diz “driver only” fez-me sentir importante.
Deixei para último o que realmente importa e que são os consumos. Consegui, sem estar a pisar ovos, mas numa toada calma que meteu uma vintena de kms em auto-estrada mas com percurso urbano na mesma viagem, uma extraordinária média de 4.7 litros aos 100 Km, quase menos 1L que o meu híbrido de 2011, o que demonstra que esta solução deveria ser levada em conta por quem procura carro novo e pelo governo que teima em taxar os carros que não são totalmente eléctricos como se fossem iguais aos demais. Não são!
Quando entreguei o Ioniq à base, alguém me perguntou: então, é muito melhor que o seu com caixa CVT, não acha? Na verdade, não acho. Mas que anda lá muito perto, anda. E oito anos de garantia são uma vantagem tremenda para um carro que custa 33.000 euros. É uma excelente opção e espero que, desse lado, comecem a perceber que os híbridos são realmente uma alternativa muito válida.
Add comment