A Canon é, uma vez mais, patrocinadora oficial de imagem do evento e seguiu de perto a participação da seleção lusa.
Lisboa, Portugal, 26 de outubro de 2023 – Existe uma faceta do rugby que raramente se vê – e foi por isso que a Canon decidiu dar aos jogadores e colaboradores da equipa nacional no Campeonato Mundial de Rugby de 2023 a possibilidade de contarem as suas próprias histórias, à sua maneira, através de câmaras Canon PowerShot V10 que os acompanharam dentro e fora do campo.
Desta forma, não só estamos a ver o rugby de uma outra forma, como eles estão a ver-se de uma nova perspetiva – da sua posição em campo à sua posição na vida. David Gérard, treinador de avançados da seleção portuguesa, oferece-nos uma nova perspetiva sobre a modalidade e revela como as dificuldades iniciais o ajudaram a construir a sua vida, o ensinaram a nunca ficar na sua zona de conforto e a retribuir sempre aos seus jogadores e à comunidade.
“Fugir não era a resposta. Quando fugia, o resultado era o mesmo. Tinha de enfrentá-los.” David Gérard não está a falar da sua época de jogador profissional de rugby no Bordéus, Toulouse ou Northampton – está a recordar os gangues violentos que o atacaram durante toda a sua juventude nas ruas da sua cidade natal, Toulon. “Eu lutava, não porque queria, mas porque eu não tinha outra opção. Andas pela cidade e quatro, cinco, seis pessoas saltam-te em cima só para lutar. Tens de crescer o mais rapidamente possível, porque se na tua cabeça continuares a ser um miúdo, eles destroem-te.“
David decidiu que fugir não solucionava nada e que enfrentar os seus atacantes era a única opção. Esta lição inicial tem-no acompanhado ao longo da vida e ajudou a formar a pessoa e mentor que é hoje. Compreender as raízes de alguém ajuda-nos a perceber melhor em quem se tornou; no caso de David – que chegou a vencer a Taça dos Campeões Europeus –, uma pessoa resiliente, divertida e gentil, que nunca se acomoda e que retribui sempre o que recebe.
Deixar tudo para trás
Enquanto adolescente, David não viu o rugby apenas como um passatempo. Era algo que o poderia tirar da pobreza, bem como da violência frequente que encontrava nas ruas. “Sou de uma zona pobre,” conta. “O rugby não é apenas um desporto, faz parte de mim. Salvou-me a vida, e a da minha família também.“
Aos 17 anos, chocou a família e os amigos ao decidir deixar a sua cidade natal para jogar pelo Bordéus, a cerca de 500 km de distância. “Se tivesse ficado em Toulon, teria tido problemas,” diz. “A maioria dos clubes de França queria comprar-me e, se eu não tivesse feito nada, teria sido a pior escolha na minha vida. Por vezes, tens de perder conforto se queres alcançar algo fantástico, algo extraordinário. Eu tinha de perder o meu conforto e a minha família também, porque ao ir-me embora, perdi tudo.“
Sozinho numa nova cidade, David deparou-se com uma luta diferente em Bordéus: “Eu era o único miúdo naquela equipa profissional. Cabia-me encontrar o meu lugar entre jogadores que tinham a mesma idade que o meu pai. Lutei por isso e, durante três anos, joguei todos os jogos com o Bordéus.“
À procura do perigo
David exige aos jogadores mais jovens da seleção portuguesa que recusem sentir-se confortáveis e que lutem por tudo – duas coisas que faz desde que era rapaz. Em 2000, assinou pelo Toulouse, um clube onde alcançaria os principais troféus do desporto mais do que uma vez. No entanto, depois de ganhar o seu segundo troféu Heineken Cup em 2005, sentiu-se infeliz e com a ideia de que se tinha acomodado. Precisava de “colocar-[se] em perigo mais uma vez”. Em 2006, foi contratado pelos Northampton Saints.
“Cheguei a Inglaterra num clube onde ninguém me queria,” afirma. “Era o único jogador francês da equipa. Durante algumas semanas, ninguém falou comigo, diziam olá e adeus. Tive de lutar novamente. Era diferente porque eu já não era criança; era um internacional francês.”
A ilustre carreira de David como jogador, o seu desejo constante de desafiar os próprios limites e o seu instinto de luta são uma constante que moldou a abordagem à forma como vive, e também como se comporta enquanto treinador. “Aprendi muito com tudo. É por isso que, quando treino, sou um pouco francês, sou um pouco português, sou um pouco inglês, sou um pouco sul-africano, porque peguei em tudo e construí-me. A minha vida centra-se no rugby.“
Retribuir o que se recebe
Ao longo da sua carreira profissional, David dedicou tempo e dinheiro a várias instituições de solidariedade social, ajudando pessoas em hospitais, prisões e outros locais. Tem orgulho em ajudar, sejam os seus jogadores, a sua família ou quem que mais precisa. Porquê? Porque às vezes estar presente é muito mais valioso do que o dinheiro. “É melhor para mim levar coisas às pessoas. Por vezes, não é dinheiro, é a nossa presença. Trazemos sorrisos, trazemos paixão, por vezes trazemos sonhos,” explica.
É nesta situação que vemos o lado mais gentil do antigo jogador de rugby de 2 metros de altura. Recorda um momento profundo durante um jogo de xadrez com uma menina num hospital infantil: “Estava à frente de uma menina… e ela olhou para mim e disse-me: ‘Deixe de olhar para mim assim. Acha que não tenho sorte por estar assim? Não tenho sorte, mas posso escolher. Mas não olhe para mim como um animal ou alguém que vai morrer na próxima semana. Eu vou morrer talvez no próximo mês ou dentro de alguns meses, mas não olhe para mim assim.’ Era uma menina de 12 anos e deixou-me sem reação. Senti-me triste por isso. Temos de mudar, não podemos ser assim, não podemos trazer a tristeza connosco. Ela não precisa de ver isso. Este tipo de experiência torna-nos pessoas mais ricas. Faço o que preciso de fazer, para mim e para outras pessoas.“
Através das pessoas que conheceu e das histórias que viu, David consegue ver a sua própria vida e carreira tal como são: um sonho – e, ao partilhar esse sonho, acredita que pode fazer a diferença.
“Isto fez-me pensar que a minha vida não era assim tão fácil, mas era um sonho. Para mim, fazer o que estou a fazer agora, ser um treinador de rugby e ter sido um jogador profissional, é um sonho,” conta. “Tenho sorte; e porque tenho sorte, tenho de falar com elas [as pessoas que conhece através do seu trabalho com instituições de beneficência] e explicar que muito pode acontecer. Às vezes temos de fazer mais um sacrifício, às vezes temos de dar mais um passo para conseguir isso.”
Ver o lado humano do rugby
Com ofertas para posições de treinador na sua terra natal e uma abordagem da seleção nacional portuguesa, David pediu conselhos à sua filha de nove anos. Ao educá-la sobre rugby, tinha-lhe mostrado vídeos da histórica vitória do Japão sobre a África do Sul no Mundial de 2015. Ao ver os adeptos do Japão com lágrimas de alegria, ela soube imediatamente que o pai devia enfrentar o desafio de treinar Portugal para criar mais momentos como aquele. “Ela disse-me ‘Escolhe essa opção’. Eu perguntei-lhe porquê. E ela disse: ‘Porque quero ver-te feliz’.“
São histórias humanas como esta que inspiram continuamente o seu amor pela modalidade. Para David, as estatísticas e o que acontece em campo são só parte da imagem; são as pessoas por detrás do jogo que mais lhe interessam – e é isso que está a captar com as câmaras Canon PowerShot V10 no Mundial de Rugby.
“O rugby é o rugby, é um desporto,” afirma. “Somos seres humanos que praticam desporto, com problemas, com coisas boas e más nas nossas vidas, e isso é ótimo. O mais importante para mim é que estou a treinar um pilar da França, que tem mulher e filhos, que gosta de massa e odeia arroz, que ri quando diz uma piada marota e que chora quando diz que tem de perder 2kg. Eu digo aos meus jogadores que se tiverem de chorar à minha frente, que chorem. Que se têm de ser agressivos à minha frente, que sejam. Não escondam nada; a vida não é assim.”
Fazer algo “não normal”
Quer sejam os seus jogadores, a sua filha ou as pessoas que ajuda através do trabalho de solidariedade, David deseja inspirar todos a alcançar as coisas que achavam impossíveis – algo extraordinário ou algo “não normal”. É claro que quer que Portugal ganhe o maior número de jogos possível, mas está sempre a olhar para além do desporto para se concentrar na humanidade a ele subjacente.
“Quero que a minha filha e todas as pessoas sintam algo quando veem os rapazes a jogar. Que sintam que não temos medo quando jogamos. Não temos medo de perder um jogo,” declara David. “Temos de ter medo é de perder o nosso lado humano e o que nos fez começar a jogar rugby. Quero que os meus jogadores sintam isto. Quero que ela, aos nove anos, sinta isto também. Que sintam emoção, porque é o que quero que todas as pessoas sintam. Que vejam alguém a lutar em campo, não por um resultado, mas sim pelo orgulho, pela fé. A fé é a minha palavra favorita. Precisamos de ter fé. A fé de que os rapazes têm a capacidade de fazer algo extraordinário.”
Embora David diga que ganhar ou perder não é tudo, o amor pelos filmes desportivos entra nos seus sonhos: “Adoro filmes desportivos porque algo ‘não normal’ acontece. Se um dia Portugal fizer algo não normal, então talvez tenhamos um filme – e talvez Bruce Willis fique com o papel do meu pai!“
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