O mundo fotográfico está a mudar. A hegemonia Canon/Nikon (que em Portugal até parece que dividem o mercado total) está a conhecer um grande e intenso assalto ao seu podium e status quo.

Por um lado, marcas de grande nomeada lançam máquinas fabulosas (Pentax, Fuji), por outro surgem novos players como a Sony que já garantiu o terceiro lugar do podium (há quem diga que já subiu mais um degrau), pois tudo o que toca parece que se transforma em ouro. E terá sido uma das grandes apostas desta marca (seguida por outras, inclusive com o sistema 4/3 onde se destaca a Panasonic e Olympus) que obrigou a Canon a entrar nesse novo mundo das mirrorless, o sistema sem espelho.

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E esta realidade fez “tcham” e ecoou por todo o lado! A Canon também soube aproveitar o mercado sempre ávido por novidades quando anunciou a intenção de produzir um tal modelo. Depois usou-se das redes, curiosos, blogues, revistas e opinion makers quando revelou as primeiras fotografias da M. Ou seja, já se falava da nova câmara e como ia revolucionar o mercado, ainda nem estava no mercado. Grande jogada!

Os meses passaram, ela foi lançada e finalmente também chegou ao Xá das 5 e logo na cor vermelho escuro metalizado, muito bonita, bem compacta e com uma lente que se notava ao primeiro toque ser muito bem construída.

Num repente, na minha mão, a primeira Canon compacta com lentes intermutáveis…

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Corpo pequeno, alma grande

A escolha do processador era óbvia e recaiu num APS-C com uma resolução de 18mp (e o mesmo que está consagrado pelas EOS 600 e 650D). Mas existe logo uma imensa diferença, a falta de espelho que leva a que toda a estrutura, corpo, arquitectura e sistema sejam diferentes, mais leve, mais pequena, enfim, mais compacta.

E realmente tem dimensões reduzidas, embora nos engane no seu peso e que este constitua uma surpresa no bom e mau sentido. Bom, porque percebemos que temos na mão uma máquina a sério. Mau, porque não é passível de ser transportada no bolso de um casaco.

Como é normal (infelizmente) neste novo nicho das “compactas” de elite, ou semi-profissionais, a EOS M também não tem um visor integrado (nem óptico nem electrónico), obrigando-nos a olhar sempre pelo ecrã LCD que, já se sabe e por muito bom que seja (e neste caso é), não evita alguma dificuldade de operação sob luz directa ou mais intensa (para além de afastar o fotógrafo fisicamente da câmara, o que é estranho, não sei se me entendem). Mas, de qualquer forma e por mais um punhado de euros, existe sempre a possibilidade de comprar um visor compatível.

Eis que chegamos à minha primeira crítica negativa. No pack desta EOS M vem um fabuloso e enérgico Flash externo alimentado por pilhas AAA e com uma dimensão generosa (comparativamente com a compactês da unidade principal). Vem acompanhado por um saquinho de veludo mas é daqueles adereços que não iremos transportar no dia a dia. E, mais a mais, esta EOS M provou-me que não precisa de flash para tirar excelentes fotos com parca luz… Então, porque não mimar quem compra (e por bom dinheiro) a M com um visor externo e deixar o flash para se adquirir à parte? Seria, sem dúvida absolutamente nenhuma, um tiro certeiro no alvo que é o lado racional do consumidor. Ah, claro, resta dizer que, se vem um flash externo é porque… não existe um interno. E, francamente, podia lá estar um, pequenito, mas que desse para aquelas necessidades imediatas. Mesmo mais fraco, seria mais utilizável.

Mas continuando no corpo… ao contrário do que se podia esperar devido a ser uma Canon, e mesmo naquilo que se considera “compacta”, é das câmaras com menos botões físicos nesta categoria que já me passaram pelas mãos. E aqui, das duas uma, ou é uma decisão em cheio ou vai dar problemas… já lá vamos.

 

A lente

É em metal e com uma construção assinalável. Tudo é suave mas directo, é, na verdade, excelente e uma óptima companheira para este primeiro kit da EOS M.

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Trata-se de uma 18-55 (equivalente a uma 28.8-88mm em 35mm) com sistema de montagem EF-M que também é uma novidade. Nesta altura, existe só uma companheira (mas a Canon vai tratar disso) com 22mm a F/2. E então a vantagem de se comprar Canon porque se tem umas quantas lentes Canon lá em casa? Bom, neste caso existe a possibilidade que é adquirir um adaptador para as EF e EF-S.

 

A guerra das siglas

Será então que vale a pena optar por uma EF-M compacta em vez de uma dSLR normal, já que estamos a acumular gastos (visor, adaptador…)? Bom, a questão aqui é só uma: peso, espaço, portabilidade! Exactamente o que outras marcas fizeram com novos sistemas (Sony com as NEX, Samsung com as Next, Panasonic e companheiras com Micro 4/3), tudo em busca da solução milagrosa que é juntar a melhor das qualidades à facilidade de transporte e utilização.

Neste campo, já se sabe, as Nex da Sony vão já na sua terceira evolução e as micro 4/3 têm o seu mercado já bem definido. Será que basta ter o logotipo Canon para ultrapassar este atraso?

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Operação

De uma forma muito engenhosa, a M apresenta apenas sete botões no painel traseiro, três dos quais estão e são a roda de operação que tem no seu interior as tradicionais quatro direcções e um “enter/set” no centro. Os restantes são o play, o modo de gravação vídeo, menu e info. Convenhamos que para uma compacta deste calibre soa a pouco, não é? Mas tudo é uma evolução e o ecrã LCD é táctil com todos os prós e contras desta nova moda. E, pelo que parece, vou mesmo ter que me habituar a isto.

Existem menus “tocáveis” para todas as necessidades e, pelo menos para mim, preciso de algum tempo para poder ficar à vontade para trabalhar deste modo, apenas pelo ecrã. De qualquer forma, existe um modo de Menu rápido que nos possibilita, através das quatro teclas direccionáveis, escolher o balanço de brancos, estilo de imagem, qualidade, modo de focagem, etc.

Contudo e apesar da minha, confesso, pouca vontade em lidar com ecrãs deste género em maquinetas que eram tão boas quantos mais botões tivessem, é até prático controlar os níveis de exposição, compensação, velocidade e demais com uma “dedada” da esquerda para a direita ou vice versa. É até mais rápido. E depois lá está a tal enorme vantagem e uma função que gosto mesmo muito, a focagem por toque. Podemos tocar num ponto do ecrã para tirarmos “o boneco” focado nessa precisa zona. Isto sim é mesmo muito cool. Podemos ao mesmo tempo programar o disparador para acontecer mal a focagem faça plim e diga que está no ponto. Mas é outra coisa a que tenho que me habituar.

Contudo, e neste campo, nem tudo são rosas. Por vezes, o automatismo é lento a focar e tende a dificultar essa acção em ambientes com menos luz. E quando queremos ser rápidos, a coisa pode não ser imediata. Aliás, é algo a que os futuros donos da M se terão de acostumar e aprender técnicas que evitem o problema.

Por outro lado, se bem que seja necessário ter a M bem estável, é qualquer coisa de fabulosa a quantidade de luz que ela vai buscar em ambientes nocturnos. Tirei fotografias numa esplanada à noite que, no dia seguinte, ninguém acreditava que tinha sido ali sem luzes adicionais e projectores e demais. Mas atenção, o tempo de exposição é mais prolongado e é preciso pulso firme. E esta é mais uma razão porque não compreendo a inclusão do flash no kit. É que não é mesmo necessário…

Mas os resultados são um dos melhores cartões de visita desta M. Só gostava mesmo muito que a Canon tivesse colocado um simples botão que alternasse o modo de focagem MF/AF e que, visto que não existe visor, a M me desse (como algumas concorrentes) automaticamente um foco em zoom digital que me facilitasse a focagem em modo manual, porque o anel é grande, confortável e convidativo (já disse que é em metal e muito bem construído?).

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Ergonomia ou a falta dela

Esta M tem duas personalidades que me fazem gostar dela mas também não gostar. Explico facilmente: se por um lado tira fotografias maravilhosas, a opção pelo ecrã táctil sem visor num corpo que não é assim tão compacto ou leve que se possa transportar num bolso, dificulta a operação e o equilíbrio do conjunto, pois uma das mãos tem de estar sempre livre para poder tocar no ecrã.

Mas o grande problema, quanto a mim o principal, é que a outra mão (direita) não tem espaço para agarrar convenientemente o corpo da M. Pura e simplesmente não há espaço, nem punho, nem grip. Ou seja, é difícil operá-la em termos físicos. Por muito que mudasse os dedos uns milímetros, nunca me senti à vontade com a M na mão. Talvez mãos mais pequenas que as minhas sofram menos, mas, recentemente e num almoço com o staff da Canon e alguns jornalistas, esta crítica era unânime. Mas este é o problema desta nova geração de compactas profissionais, perde-se nalguns campos para se ganhar noutros.

Outra nota menos boa: porque é que o ecrã é fixo, visto que outras compactas (até concorrentes) já oferecem a possibilidade multi-ângulo?

Características

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Por muito que tente evitar o jargão técnico nestas minhas análises, pois enchem o artigo com o que está escrito e descrito por todo o lado, tenho sempre de mencionar algumas das características chave dos equipamentos, principalmente quando elas nos obrigam a uma maior atenção.

A EOS M não desilude neste campo e o que promete, cumpre! O ISO vai dos 100 aos 25,600 (12,800 quando se filma), o sistema de AF tem 31 pontos (1.7fps com a18-55 do kit, 1.2fps com a 22mm e 4.3fps com focagem fixa com lentes EF ou EF-S). As possibilidades na gravação vídeo são 1080/30p e 1080/24p, para além das mais baixas 720/60 e 50p e 640×480/30 ou 25fps.

No topo da câmara estão colocados o selector auto/standard/filme, o shutter, uma sapata e o microfone estéreo. Atrás já os mencionei, com a presença das 3” do fantástico ecrã LCD. Mas à esquerda, e o que realmente procuro numa câmara que me promete mundos e fundos, é a entrada para microfone externo. E lá está ela, ao lado das portas HDMI e USB. Ora a entrada Mic e a sapata para um acomodar um microfone são pontos muito a favor desta EOS M.

O sistema de menus é fácil e de rápida percepção, mas como muda conforme a função que utilizamos, causa alguma primeira confusão. É necessária alguma habituação e memorização das variadíssimas opções. Por exemplo e em modo filmagem, o menu mostra as opções de filme. Também se pode fotografar enquanto se filma, mas no formato 16×9. Para mudá-lo, lá temos de entrar nos menus. Portanto, é necessária uma preparação prévia se queremos que tudo saia perfeito. Mas lá está, quanto mais tempo de experiência, mais desenvoltura, melhores resultados.

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Qualidades

A EOS M apregoa ser uma compacta com qualidade DSLR. E… é verdade!

A qualidade das imagens impressiona, mesmo com pouca luz, como referi lá em cima. A lente com estabilização ajuda muito quando puxamos o ISO e é um gosto observar a densidade das cores e o equilíbrio geral. Obtemos sempre aquele ar já tradicional “Canon”, com cores quentes, naturais.

Dei por mim a aproveitar as características manuais no modo de filmagem, opções que são (quanto a mim) imprescindíveis numa câmara fotográfica moderna e de topo). A M possibilita todo o controlo de todas as funções, mas é brilhante em modo automático em que podemos pré-escolher o modo de focagem e a exposição e deixar andar. Os resultados são mesmo bons.

Esqueçam tirar fotografias enquanto filmam. É possível, mas o vídeo pausa durante cerca de um segundo o que torna impraticável esta opção. E, logicamente sendo Canon, existe um enorme mercado de acessórios e adaptadores e tudo o mais, que torna a M numa câmara com possibilidades de upgrade maior que as suas rivais.

 

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Concluindo

A EOS M é uma câmara com duas caras. Se por um lado a ergonomia falha e a obrigação na utilização do ecrã táctil tende a dificultar a operação (que numa semi-profissional se deseja rápida e eficiente), por outro oferece uma excelente qualidade naquilo para que é feita, ou seja, tirar fotografias.

Mas o preço é elevado e existem ainda alguns sectores melhoráveis, como a focagem que perde tempo aquando condições menos perfeitas. E, atenção, existe já uma melhoria em relação ao mesmo campo/problema que também se encontra na 650D.

Mas depois brinda-nos com uma lente kit muito interessante, uma sapata para acessórios e a entrada para microfone externo. A qualidade em vídeo é dinâmica e real e é um dos campos mais fortes desta “compacta” mirrorless da Canon, uma primeira grande aventura num campo “desconhecido” e com um formato atípico para este gigante fotográfico.

Se vai ser um sucesso? Sim, para quem é fã da Canon e já tem mais lentes e acessórios que podem, mediante adaptadores, ser utilizados na M, afinal, o seu grande trunfo.

Para os outros, existem alternativas num mercado cada vez mais importante e em franco crescimento.

 

PS: devido a uma troca de cartões SD, trouxe para uns dias de “descanso” aquele que pensava ser da EOS M. Não é. Portanto, para o meio da semana publicarei aqui a reportagem fotográfica. Peço desde já desculpa por este ligeiro inconveniente.

 

João Gata

Começou em vídeo e cinema, singrou em jornalismo, fez da publicidade a maior parte da vida, ainda editou discos e o primeiro dos livros e, porque o bicho fica sempre, juntou todas estas experiências num blogue.

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