A meio dos anos 80, quando a “televisão” dava à descoberta a música que, em Portugal, era difícil de encontrar (alvíssaras para o Álvaro Costa e o seu fantástico Videopolis, assim como para o Paulo M. Fortes e o António Saraiva que nos deram a conhecer o novo mundo da arte visual com os programas Pop-Off e Lusitânia Expresso), surgiu um estonteante personagem de rompante num curioso filme intitulado Max Headroom: 20 Minutes into The Future. Esse personagem era o jornalista Carter que, depois de um acidente, regressava à vida como um crooney robotizado que vivia na televisão: o nome era Max, a casa, Headroom.
Esta estranha premissa saiu da cabeça do trio George Stone, Annabel Jankel e Rocky Morton, que convidaram o actor Matt Frewer (que surge hoje em dia como cientista maluco nessa fabulosa série “Eureka“) para fazer história ao apresentar uma espécie de boneco animado por computador. Mas não.
Naquela altura, não havia computadores que fizessem isto e Frewer penava horas a ser maquilhado para se apresentar como Max. Tudo o resto, e não é pouco (mesmo passados 30 anos), era edição aturada, precisa, complexa, e fundos feitos “à mão”.

O sucesso do conceito foi enorme e em 1985, quando ainda havia lugar na televisão generalista para alguma inovação, foi lançado o projecto The Max Headroom Show, produzido pela Carlton TV e transmitido no famoso Channel 4. Estes seis episódios mostraram um Max como apresentador de um show de vídeoclips, tão em voga na altura, mas eram as suas interrupções, gozos, críticas directas e gargalhadas em loop, que fascinavam a juventude. Seguiu-se no ano seguinte nova encomenda com 10 episódios e um, atenção que já se faziam na altura, Christmas Special. Desta feita, Max já tinha plateia e o The Max Talking Headroom Show ficou conhecido pelos passatempos que, na maior parte das vezes, não tinham sequer prémios. Ou as regras mudavam. Ou o vencedor ia para casa de mãos a abanar. Era uma galhofa sem fim, complementada por artistas ao vivo e um convidado em cada episódio.
Max Headroom também protagonizou várias campanhas de publicidade:
Anúncio New Coke
Anúncio Radio Rentals
Max na Rua Sésamo
Max entrevistado por David Letterman, atenção que foi um directo, com edição feita no momento (os “ecos”) e que demonstra a grande contenção e preparação de Matt Frewer (repare-se nas rugas no pescoço)
https://www.youtube.com/watch?v=3iKVXn0fJ4o
O sucesso continuava em crescendo e, num repente, Max pisa a América para surgir numa série bem mais complexa e com valores de produção muito elevados.
A CineMax lançava-o para o mundo global do primetime em 1986, com o piloto da série Max Headroom que foi transmitida até 87, mas para sempre, ficam as famosas entrevistas como esta, a William Shatner:
Mais recentemente, em 2007, a série original foi transmitida no More4 a 21 de Outubro fazendo parte do programa comemorativo do 25º aniversário do Channel 4.
E em 2010, a Shout! Factory editou Max Headroom: The Complete Series em DVD nos Estados Unidos e no Canadá.
Termino a peça com mais uma curiosidade: o mesmo Channel 4 foi buscar o mesmo actor, Frewer, para uma série de pequenos anúncios televisivos que preparou os britânicos para a mudança do sinal televisivo de analógico para digital. Segundo o mote “Get set for digital”, um já mais velho Max, ainda muito chateado pela televisão não lhe ter dado ouvidos nos idos 80 quando já gritava que “o futuro era como ele, digital”, surge numa campanha de orientação e aviso.
E isto sim, é respeito e… humor britânico.
https://www.youtube.com/watch?v=zPm4qkVENhA
E agora perguntam, porque é que me lembrei disto? Porque um amigo, no Facebook, me respondeu a qualquer post mencionando a personagem. Lembrei-me de tudo e sorri.
Para quem ainda tem paciência, eis um vídeo em que Matt Frewer, em 2002, fala do papel.