A Yourban MP3 é para homens de barba rija por muito que o conceito das três rodas sugira que pode ser usada por todos nós
Durante a vida somos duramente examinados.
Quer seja em relação aos conhecimentos adquiridos, como à vocação (também em plural), ainda ao nível da paciência se esgotar e, de vez em quando, no desenrolar de uma experiência que nos prova (e ao mundo) que temos fibra.
E não da que se come ou leva sinal a casa.
Guiar um motociclo em cidades com trânsito infernal é uma faca de dois gumes: se por um lado sabemos que seremos mais rápidos a percorrer a distância de A a B, também temos consciência que podemos levar com um carro em cima, principalmente se for de “praça”.
Ou uma ambulância desgovernada… ou um fedelho de trotineta.
Andar de moto não é para todos… até ao dia em que somos mais fortes que o medo e nos atiramos de cabeça.
Toda esta introdução para vos avivar a memória em relação à minha grande aventura do ano passado, em que andei montado numa Piaggio Medley 125 durante duas semanas (após um curto curso oferecido pela prevenção rodoviária, uma obrigação para todos quantos querem seguir estas pisadas).
Fiquei fã e passei a revisitar locais da minha cidade, agora que podia aparcar com facilidade.
Fui ter com amigos a locais sociais, andava livre com um sorriso nos lábios e tudo, mas tudo porque “estava de moto”.
Como essa aventura correu bem, e que até tem vídeo que podem ver aqui ou ler o artigo aqui, a Piaggio convidou-me para experimentar um triciclo.
E lá fui eu.
Três rodas não são para meninos
Espero que a minha memória não me atraiçoe, mas acho que nunca andei com rodinhas, daquelas que dão segurança extra a quem, muito jovem, tem o primeiro encontro e experiência com um veículo de apenas duas rodas.
De repente, o convite: em vez de duas, três rodas, ó João!
E o João lá foi levantar a Piaggio MP3 Yourban LT 300 a Marvila.
A primeira sensação quando se vê um bicho destes à frente é misto: é muito maior do que esperamos depois de uma única experiência com uma 125, mas por outro lado, aquele par de rodas frontal promete uma dinâmica e segurança sem paralelo.
O triângulo invertido
Três rodas, neste contexto, fazem um triângulo. Tudo bem.
Só que as duas rodas, em vez de estarem atrás como nas bicicletas de aprendizagem em que assumem ser apenas apêndices à roda principal, estão colocadas de forma muito distinta.
Nas MP3 da vida, temos um par de rodas à frente e apenas uma atrás. Faz sentido?
É capaz de fazer para quem músculo e agilidade.
É que, a bem da verdade, a MP3 é um extraordinário conceito mas não é a melhor solução para muitos de nós e passo a explicar depois do espaço para as características técnicas que fui sacar ao site oficial:
A Mp3 Yourban LT 300 cm3 pode ser conduzida por quem apenas detém a carta de Carro B.
Ideal para qualquer piso de estrada devido aos altos níveis de segurança que oferece.
É ideal para se quem quer deslocar com uma scooter compacta , ágil e segura.
O motor 300cc, monocilindrico a 4 tempos, 4 válvulas, e de injecção electrónica, fornece uma potência de 22,6 CV a 7.500 rotações e um curso de 24Nm a apenas 6.000 rotações oferecendo as melhores prestações do segmento, para uma condução sempre gratificante.
Pronto, tudo explicado: percebemos que quem tem carta de condução pode guiar este triciclo que já “manda” uns respeitosos e rápidos 22 cavalos para o asfalto.
Para além de que fica sempre bem dizer que “tenho uma trezentos” em vez de “guio uma cento e vinte cinco”.
Hora da verdade
Ou o grande ditado “quem tem pescoço em francês tem medo”.
Na verdade, basta montar a Yourban para perceber imediatamente que não ver ser fácil domar esta fera.
Consegui, por pouco, chegar ao chão e foi em biquinhos dos pés, o que está longe de ser ideal para quem anda no pára-arranca urbano.
Depois da lição bem dada no stand, fiz-me à estrada e escolhi trajectos que sei mais ou menos ideais para uma pessoa se acostumar a algo que não domina.
Confesso que senti um misto de liberdade e pânico. Explico:
Duas rodas à frente e em linha recta ou curvas pouco acentuadas são milagrosas.
Mas essas mesmas duas rodas aumentam muito o peso do trem dianteiro, mesmo que seja em alumínio, e são os nossos braços que o têm de dominar.
Por outro lado, é esta arquitectura e sistema de suspensão que faz a diferença: um paralelogramo que funciona mais ou menos com um esquiador a fazer curvas, flectindo a perna interior e estendendo a exterior a cada curva.
É o mesmo conceito, explicado assim de uma forma muito simples.
O problema é que, quando fazemos a curva, é toda a moto que se inclina e temos de ter bastante prática para a puxar ao centro a meio de uma travagem brusca.
Se não o conseguirmos, é o nosso pé e corpo que vai aguentar todo esse peso.
Repito, não é nada fácil, principalmente para pessoas até 1,70 m de altura que é o meu caso.
Coisa boa, é que o sistema de travagem é repartido por ambas as rodas (até temos um travão de pé, mas nunca usei), o que pelos dados da marca é 20% mais seguro que os modelos de duas rodas.
O sempre em pé
Muitas das pessoas que me viram nela (ou com ela) repetiram a questão: então esta mota fica sempre em pé, não é? Infelizmente, não é assim.
Para a mota ficar imperturbável, assente nas suas três rodas, somos obrigados a premir um interruptor que acciona o sistema electro-hidráulico que prende a suspensão.
Mas atenção, prende a suspensão no ângulo em que se encontra, ou seja, nada tem a ver com a linha horizontal.
E isto pode provocar alguns dissabores.
É um sistema perfeito para os semáforos, desde que fiquemos direitos.
Chegamos ao vermelho, paramos a mota, accionamos o sistema, e ficamos com os pés na embaladeira, pois basta acelerar para desligar o sistema.
Mas, lá está, mas uma vez requer experiência e equilíbrio.
A vantagem é que existe um sensor no banco que “diz” à Yourban que alguém lá está sentado para desligar o sistema e permitir andar para a frente.
Comandos, interruptores, acções
A Piaggio sabe o que faz.
Esta Yourban respira qualidade de construção e tem um painel de instrumentos muito legível e completo.
Não falta um computador de bordo com as funções básicas (bastando premir várias vezes o botão modo para saltar de quadro), travão de mão, buzinas, abertura de tampo gasolina e assento, tudo isso está no sítio certo e “ao dedo”.
Dado o tamanho da Yourban, e sabendo que a Medley 125 oferece esse espaço, é com pena que se percebe que o porta bagagens não aceita dois capacetes integrais. Mas sempre temos um gancho para uma mochila ou saco de supermercado.
A posição de condução, uma vez a “scootar”, é excelente.
Dizem que o pendura também viaja bem, mas essa é uma experiência que fica para o futuro.
A experiência
Se subo a Calçada da Estrela com buracos, carris e ângulos mortais sem grande receio, mesmo sentindo constantemente a roda traseira a deslizar de um lado para o outro, já é a medo que acelero quando o semáforo fica verde mas tenho de parar a meio da curva seguinte por causa da passadeira de peões.
Gostei dos travões, do equilíbrio, da segurança que oferece, da iluminação em Led, tanto traseira como dianteira, do travão de mão e, claro, do sistema hidráulico que nos permite ficar de pé.
Mas confesso que tive sempre algum medo devido à parca experiência.
Não contava com ele, pois parti para a aventura com a grata quinzena aos comandos da Medley 125 que tudo tornou fácil.
Com a Yourban, precisamos de mais tempo, de maior prática e, acima de tudo, de mais força.
O preço também assusta pois são quase oito mil euros.
Aconselho uma visita aos stands da marca e pedir para fazer um testdrive.
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